quarta-feira, 22 de maio de 2019

HÉRNIA DE DISCO DÓI?


HÉRNIA DE DISCO DÓI?

Na maioria das vezes não! 
Quando uma pessoa sente dor o que ela mais quer é o alívio imediato e saber porque está sentindo tal desconforto. Então, procura um médico que, comumente, solicita um exame de imagem, com a intenção de encontrar algo que justifique aquele quadro.
Pois bem, provavelmente o paciente sai do consultório médico com uma receita de anti-inflamatório, analgésico, relaxante muscular e até de antidepressivo. É possível também que saia com a guia para realizar um exame, geralmente de ressonância magnética nuclear (RMN). 
No retorno, está com o exame de imagem em mãos, acompanhado de um pacote gigantesco, (apesar da digitalização de imagens, alguns laboratórios imprimem as imagens em filmes enormes). Enfim, o médico realiza o habitual ritual: abre o exame e coloca cada página de imagem no negatoscópio, verificando detalhadamente cada corte. O paciente neste momento está atento e ansioso para, finalmente, ouvir a justificativa, o verdadeiro motivo daquela dor terrível. O médico por sua vez após analisar as imagens dirige-se a ao paciente e diz: “olha, sua coluna está ruim para a sua idade, aqui está o motivo: presença de hérnia discal em L4-L5, L5-S1, desidratação dos discos, abaulamento ente L3-L4, etc.. ” 
O paciente sente-se aliviado e ao mesmo tempo inseguro, pois finalmente foi identificada a razão da dor. 
Porém, 95% dos casos a hérnia discal, pasmem, é assintomática. É isso mesmo, não apresentam sintomas. 
O mais grave de tudo isso, é o efeito psicológico negativo (Nocebo) que é gerado nesse paciente. A partir disso ele passa a proteger a coluna supostamente danificada, tornando-se cada vez mais sedentário, movimentando-se cada vez menos, agravando cada vez mais o quadro. Existe, ainda, uma grande possibilidade de peregrinação em busca de outro médico, técnicas e terapias milagrosas, etc.
É muito comum um paciente passar por intervenção cirúrgica de hérnia discal e continuar sentindo dor. Por quê? Porque os discos intervertebrais não são as únicas estruturas, presentes na coluna, responsáveis pelo processo doloroso, e isso não significa que exista alguma outra estrutura (ligamento, articulação, faceta, tendão, etc.) machucada. 
No entanto, não podemos esquecer que estamos envelhecendo e alterações degenerativas nas estruturas da coluna, visualizadas em exames, são perfeitamente normais. Isso também não significa que todas as pessoas sintam dor pelo fato de estarem envelhecendo.
Acredite, é possível envelhecer sem dor apesar de todas as alterações estruturais presentes. 
Mas então, de onde vem a dor?
É neste momento que o papel do fisioterapeuta é fundamental. 
O paciente deve passar por avaliação fisioterapêutica completa para que seja possível identificar a raiz do problema e traçar um plano de tratamento individualizado e personalizado. Cada caso é um caso e a dor nem sempre é fruto de tecido lesionado.
Proponho, aqui, um desafio àqueles que não sentem dor lombar: façam um exame de imagem. Posso garantir que grande parte destas pessoas apresentarão alterações estruturais, e isso não tem relevância nenhuma, afinal de contas não sentem dor. 

Curiosidade:
Foi realizada uma revisão sistemática, trinta e três artigos foram avaliados e 3110 indivíduos assintomáticos (sem dor) que participaram dos estudos apresentaram achados de imagem: 
-presença de degeneração (desgaste) discal em 37% dos indivíduos de 20 anos de idade assintomáticos;
-presença de degeneração discal em 96% dos indivíduos de 80 anos de idade assintomáticos;
-protrusão de disco em 29% dos indivíduos de 20 anos de idade assintomáticos;
-protrusão de disco em 43% dos indivíduos de 80 anos de idade assintomáticos; 
-fissura anular em 19% dos pacientes de anos de idade assintomáticos;
-fissura anular em 29% dos pacientes de anos de idade assintomáticos.
Portanto, achados de imagem de degeneração da coluna estão presentes em altas proporções em indivíduos assintomáticos. 
Muitas características degenerativas baseadas em imagens são provavelmente parte do envelhecimento normal e não estão associadas à dor. 
(© 2015_American Journal of Neuroradiology. http://www.ajnr.org/content/36/4/811.long)

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